domingo, 27 de novembro de 2011

Pendências

Todo mundo tem pendências.

Vira o mês, entra o salário, a felicidade vem, mas dura por pouco tempo porque todas as dívidas e contas precisam ser pagas. Lá se foram 75% do seu salário só com comida, condomínio, aluguel, luz, água, roupa... Ou será que foram 200% e você terá que pedir empréstimo ao banco ou usar o cheque especial?

Pendências...

Os limites do cartão de crédito aumentam só para você gastar mais e viver cada vez mais endividado. O padrão de beleza está cada vez mais elevado: já existem os cremes antirrugas para os que têm 25 anos de idade; os esmaltes são de 1001 cores; o salão de beleza está sempre cheio; o seu peitoral tem que ser o mais definido possível e, de preferência, igual a um tanque; o corpo da mulher deve ser igual ao daquela da capa da revista (linda, loira, esbelta... ué? Mas a foto dela não foi editada pelo Photoshop?). Peraí... Será que tudo isso é real ou foi o mundo que criou tudo isso para que fôssemos cada vez mais presos a ele? 

Pendências...

Passamos muitas horas em frente ao Facebook. Precisamos estar conectados. Conectados com o mundo. Conectados com o que todos dizem. Precisamos parecer importantes, badaladeiros. Precisamos mostrar que estamos vivendo. Estamos mesmo vivendo? Compartilhamos links, reclamamos de tudo. Somos politicamente inconformados. Precisamos mostrar que somos inconformados com a sociedade, inconformados com a política. Mas será que estamos inconformados com nós mesmos? Será que alguém para para olhar para o próprio umbigo?

Pendências...

O mundo caminha rápido, está voltado só para o aqui e agora. Esquecemos quem somos, não pensamos. Começamos a viver por viver.

Acordamos. Tomamos café. Ou, às vezes, não tomamos porque estamos atrasados. Pegamos o ônibus (ou o metrô, ou a van, ou a Kombi). Olhamos para o relógio. Contamos os minutos. Se pudéssemos, desaceleraríamos os ponteiros para conseguir fazer tudo o que gostaríamos em tão pouco tempo. Chegamos ao trabalho. Batemos o ponto. Cumprimos nossas tarefas. Chega a hora do almoço. Almoçamos. E depois do horário do almoço, a hora começa a ficar devagar, o sono começa a bater, e tudo o queremos é que o dia acabe logo para que possamos voltar para casa e descansar. Outros nem mesmo gostariam de voltar para casa, pois os problemas estão lá. Se pudessem, emendariam um dia no outro e trabalhariam quantas horas fossem necessárias para esquecer os problemas. Mas enfim... Batemos o ponto. Voltamos para a casa. A vida corrida volta de novo. E os pensamentos estão lá...

Pendências...

Será que eu realmente tenho que comprar todas essas roupas? Será que eu tenho mesmo que pintar o cabelo e fazer chapinha? Será que eu tenho mesmo que comprar o novo modelo de celular, iPad, iPhone? Será mesmo que eu tenho que comprar aquele novo eletrodoméstico da mais última geração? 

Que padrão é esse?

Não sei... Só sei que há pendências demais para serem resolvidas, e se nós não pensarmos nas coisas que realmente importam, vamos receber tudo o que esse mundo globalizado e enlatado diz que temos que fazer e consumir com o seu modismo, vamos passar dia após dia das nossas vidas, vamos fazer cada tarefa, vamos pagar cada conta que devemos a quem quer que seja, mas vamos continuar simplesmente existindo.

Pendências... Pendências essas que não tem nada a ver com a vida do mundo globalizado, que diz o que você deve fazer no aqui e agora. Pendências dentro de nós. Sim, há pendências dentro de nós. E a grande maioria dos seres humanos simplesmente existem e vegetam de acordo com o que esse mundo globalizado consumista impõe, pois, infelizmente, está na moda não pensar.

No meio de toda essa correria, poucos são os que pensam. E, quando pensam, pensam pouco. Mas há outros que pensam mais, que querem ir mais além, que não se conformam com o que está acontecendo em suas vidas e fazem algo para mudar, não só as situações, mas entendem que as situações só podem ser transformadas pela transformação de si mesmos (Romanos 12:2). Por isso, há aqueles que não só existem, mas vivem e fazem uma grande diferença neste mundo, pois buscaram não se amoldar (tomar a forma) ao padrão deste mundo (Romanos 12.2) e estão resolvendo suas pendências.

Se não abrirmos nossos olhos, ficaremos presos somente nas pendências do aqui e agora, e não resolveremos as pendências que só podem ser resolvidas a longo prazo. São as pendências dentro de nós. Acredite: há muitas pendências dentro de nós. Não se exclua disso. Todo ser humano é complexo demais e precisamos ser humildes para reconhecer que, em toda essa complexidade, há muitas pendências, pois, se não fosse assim, não seria complexidade, não seríamos humanos, seríamos super-heróis.

A busca pela análise da motivação interior é uma ótima forma de se descobrir e crescer em autoconhecimento, para que não ajamos somente pelo aqui e agora, conformando-se com as situações e empurrando todos os problemas evidentes para debaixo do tapete, evitando que pendências sejam resolvidas. Pensar em nós mesmos e em toda nossa complexidade interior e pensar no mundo como ele realmente é nos faz entender que somos muito mais do que simplesmente seres humanos que existem.

Portanto, que o nosso alvo (daqueles que foram chamados para não se amoldar aos padrões deste mundo - Romanos 12:2) seja não só buscar o próprio conhecimento (de si mesmos) - para que não sejamos apenas produção em série, meros espectadores e zumbis existenciais -, mas também seja conhecer e prosseguir em conhecer Aquele que nos criou, Aquele que age em todas as coisas para o bem, Aquele que nos comissionou para um propósito muito maior (Romanos 8:28): Deus. Que Ele nos ajude a nos conhecermos melhor e a resolver todas as nossas verdadeiras pendências.

Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém. (Romanos 11:36)

4 comentários:

  1. Nossa...que texto profundo.
    Gostei muito, Mileninha!
    ;)

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  2. Quando temos uma missão, então deixamos de estar no centro.
    Quando não estamos no centro, o principal é conseguir os objetivos da missão, então todas as coisas desnecessárias são ignoradas sem a culpa ou o medo de não ser aceito no (falso) modelo imposto.
    Quando temos uma missão, as pendências artificiais que a sociedade diz que são nossas, não embassam nossa visão, então podemos dar valor e atenção as verdadeiras pendências. Aprendemos a não dar valor as coisas que têm preço, e a não dar preço as coisas que têm valor.

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  3. Gostei muito do seu texto, Milena! Eu penso que todos nós, em algum momento do nosso dia, devíamos nos questionar sobre nossas atitudes, hábitos, falhas e acertos, para saber se é isso mesmo que precisamos ser, estar, comprar, ver, falar e tantas outras coisas, ou se estamos agindo conforme os outros querem, seja o vizinho, melhor amigo, colega de trabalho, mídia, políticos, marketeiros, enfim. Continue fazendo essas perguntas necessárias, Milena, porque eu acho que só assim podemos melhorar dentro dessa sociedade que prega tanto os vários tipos de liberalismo mas que na verdade está sempre impondo padrões. Sempre questionando para tentar fazer o melhor e o que é certo aos olhos de Deus. Bjs, Milena, te adoro!

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  4. E aí, moça!?
    Sempre com textos ponderativos. Que bom ter voltado a escrever.
    Infelizmente, o mundo moderno obriga-nos a fazer (por menor que sejam) suas vontades. Mesmo que sua força interior negue os fatores externos, precisará de muitos deles para sobreviver num lugar onde a grande maioria das pessoas sequer leva hábitos simples como dar “bom dia” a sério.
    Tudo esta muito rápido, confuso e “evoluído” de forma a deixar-nos cada vez mais diante de uma tela de LCD (ou LED...). Pergunte a sim mesma quantas vezes já parou pra ver um pôr-do-sol, ou ficar lendo embaixo de uma árvore, deixando o tempo correr solto. Quantas vezes alguém já lhe abriu a porta do carro ou simplesmente pediu licença para passar ou desculpas.
    As pessoas possuem pendências não somente consigo ou com o mundo, mas com o semelhante...
    Aqui, onde a individualidade esta presente de forma expressiva existe uma Pendência comum a todos. Quando cada um enxerga-La e finalmente entender Sua importância outras pendências não incomodarão mais.
    Embora eu goste do futuro, é duro olhar a enorme borracha que ele vem passando nos valores, mascarando toques de tecla como se fossem abraços.
    Ótima postagem! Até a próxima...

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